quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Para Antônia e João

Nesse mundo tem floresta. Nesse mundo tem cachorro. Tem chuva, trânsito, ladrão. Tem chocolate, shopping center, orquídea e cerveja. Nesse mundo tem amigo, tem viagem, cheiro bom e cachoeira. Tem amor, tem pai, tem filho e espírito santo. Tem carinho e bofetão. Tem choro, estudo, nuvem e palhaço. Tem livro, piano e tatuagem. Nesse mundo tem poeta, amarelinha, incêndio e tem guerra. Tem gente rica que é pobre e gente pobre que é rica. Nesse mundo tem educação, tem dívida e coração. Tem liberdade, carinho e preocupação. Nesse mundo tem cegonha, tem patrão, macumba e avião. Nesse mundo tem morte. Tem leite. Tem mãe. Antônia e João.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Na nossa casa de giz

Era exatamente aqui que eu queria estar. Dia de finados. Céu cinza como de costume. Uma caipivodka de blueberry com lima (nova invenção). Tom (Jobim) no itunes. Antônia no meu colo, murmurando baixinho sua canção de auto-ninar. Meio dia e meia. João no outro quarto, quase dormindo com o Pedro. Noite curta, dia longo. Banho nos dois. Cachoeira radioativa caindo no capacete do Buzz, Banho de chocolate nos olhos da Antônia. "Sim, me le leva sempre Beatriz/ me ensina a não andar com os pés no chão...". Poderia ser um trabalhão, mas são mil estórias que contamos juntos todos os dias. São muitos abraços gratuitos, beijos babados, aqui, na nossa casa feita de giz... No mundo da imaginação, na Terra de Athreyo, Woody, Rex, Branca de Neve, no nosso castelo. Esse pijama de carrinho, casa bagunçada, brinquedos revirados. Quero que seja pra sempre. Sinto uma saudade precoce desse tempo em que o mundo deles sou eu quem invento. Esses olhos vidrados em nós, esse carinho colado... Por isso, que mesmo com todos os nossos problemas, é exatamente aqui que eu queria estar. Com vocês, meus filhos. Que vão crescer um dia. Que vão me perguntar coisas que eu não vou saber responder. Que vão seguir suas vidas pelo Mundo inteiro que fui eu mesma que disse que era imenso. Que vão amar muito, se entregar inteiros. Que não serão covardes. Que não vão se arrepender. Que de vez em quando vão se lembrar de coisas que eu disse e confirmar que eu tinha razão. Que vão me ligar de Ischia, dizendo que lembraram que eu tinha dito alguma coisa sobre o pôr do sol e umas sobremesas com creme e frutas vermelhas. São vocês que vão me dizer que gostam de música, que o enquandramento de um filme era inusitado, que vão morrer de amor depois do primeiro fora.
Sou eu que vou estar sempre aqui, às quatro da manhã, às duas da tarde e ao meio dia. Pra escutar sobre as suas conquistas, discutir sobre seus desvios, gritar, brigar, contestar, amar e amar e amar vocês pra sempre. É pra mim que vocês vão virar de costas. É pra vocês que eu vou sempre abrir a porta.