segunda-feira, 11 de março de 2013
João e a Bússola
João: Mãe, olha ali, uma bússola.
Eu: Onde joão?
João: Ali (na banca de jornal).
Eu: Isso mesmo meu filho, parabéns! Como você é esperto!
João: Na bússola a gente vê o pólo norte, a neve, a baleia e o Papai Noel.
Eu: Isso mesmo. E se você se perder em uma ilha deserta, como o menino do Corcel Negro, vai ser bem mais fácil se localizar....
João: Vamos comprar uma pra eu ver o papai?
(Pedro está no Texas).
Não me deixe só.. Eu tenho medo do escuro.
Do escuro ele não deveria ter medo, mas tem.
Da cobra, da tirolesa, do ladrão... não tem.
Da minha voz contando histórias de bruxas, tem medo.
Dos relâmpagos e trovoadas, não tem.
Estamos os quatro sozinhos desde que o Pedro viajou, na semana passada.
Nesses dias, teve de tudo. Escarlatina na Antônia. Dor de ouvido no João. Trabalho escorregando pela minha mão. Obra no novo estúdio da Estilaria. Sol escaldante de verão. Aperto de saudades no meu coração.
Passamos dias agarrados, nós três mais a Cuca. Foram intensos, bagunçados e deliciosos esses dias só de mãe com filhos. Depois de um sábado de descanso para recuperação dos miúdos, hoje a programacão foi mais intensa, com direito a exposição da Adriana Varejão, Café da manhã no Lapin e teatro no Shopping da Gávea. Nesta última, estava a vó Marília também cansada da rotina sem trégua com a bisa e o vovô. No fim do dia, de volta pra casa, mesmo dormindo na minha cama, João me dizia: "estou com medo mamãe." Medo de que meu filho? A mamãe está aqui com você, a noite todinha, do seu lado. Se vc sentir medo de noite, pode acordar. Vamos ficar de mãos dadas? Na nossa casa nada pode nos acontecer. Estou aqui pra te proteger."mas eu quero mais alguma coisa..." o que João? "o que mais eu posso querer?" Não estou entendendo meu filho... quer a sua espada pra colocar debaixo do travesseiro? "Não. Quero alguma coisa que brilhe no escuro" Foi então que resolvi pegar a lanterna que o vovô Luiz deu e PRONTO JOÃO... Serve isso? "... Serve mãe." e ele dormiu, agarrado em mim e na lanterna instantaneamente.
Hoje pude dar a lanterna, mas e na vida? Quantas "lanternas" poderei encontrar para iluminar seu caminho? Quantas vezes terei que dizer que ele vá, ainda que não haja nenhuma lanterna? Será que eu, que sempre "gostei do escuro" que sempre me joguei no abismo sem saber onde daria, poderei suportar este conselho com os filhos? Será que desde agora, pequenos, estou ensinando que a vida é arriscada e que correr riscos é a grande maravilha de estar aqui?
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