terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu e eu mesma

Eu já não estou mais cabendo dentro de mim. Não me reconheço no espelho, não suporto o calor, me mexo como se fosse velha, vivo como uma orquídea de estufa no ar condicionado. Me esforço para ter mais paciência com isso, trabalho dobrado para esquecer do tempo e me evito o quanto posso. Foram 9 meses de gravidez, mais quase onze de amamentação. Um mês voltando ao normal e no seguinte, grávida outra vez. Pode soar como ingratidão já que tantas pessoas não têm a mesma facilide para engravidar, mas eu PRECISO voltar a ser eu.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A cobra e a cococa

Tarde dessas em Teresópolis, vovó Marília apresentou uma minhoca ao João. Ele ficou espantadíssimo e muito animado com aquele bichinho que se contorcia e sumia nos buraquinhos da terra e dizia "Cococa! Cococca!! Cococa!!!". Isso aconteceu na escada de pedra, do lado esquerdo da casa, uma das passagens mais interessantes para o jardim. Era a hora do almoço para os adultos e a vovó precisava subir para dar os últimos ajustes com a cozinheira. Inconformado por ter que deixar de brincar com a Cococa, chorou das lágrimas pularem e batia as pernas no chão inconformado com tanta chatice. Tentamos distraí-lo com outras coisas, tomamos um sorvete de sobremesa e a Cococa ficou temporariamente esquecida.
No dia seguinte, como de costume, abri a janela do nosso quarto de manhã cedinho e coloquei o João sentado na janela com os pés para fora da grade. Fiquei contando as mesmas historias de sempre, acordando os passarinhos, procurando os macacos e dizendo que a neblina voltasse para o céu e chamasse o sol. Ele, prestando muita atenção na paisagem e em todas essas coisas que eu falava, de repente olhou para baixo e ... Lá estava a escada de pedra, a casa da Cococa! "Mamãe! Cococa! Cococa!!". Senti falta das minhas galochas e notei que já é hora de comprar umas pra ele também... Coloquei um roupão por cima da camisola, calcei uns crocs velhos em mim e nele, peguei o balde, o ancinho e a pá e lá fomos nós!!! "Vamos procurar Cococas João!!" Ainda tinha orvalho na grama, mas eu queria cavucar os canteiros da horta que fica lá no fundo e fingi que não vi que nossos pés ficariam ensopados. O próprio João ficou me mostrando a meia molhada mas como não dei importância, ele notou que às vezes faz parte da brincadeira um pouco de terra molhada.
Reviramos o canteiro, primeiro com o ancinho e depois com a pá. Quando eu pegava o ancinho ele tomava de mim. Se eu pegava a pá, era ela que ele queria. Quase brigamos pela ferramenta, mas logo me lembrei que afinal eu estava ali para brincar com ele e não para disputar seus brinquedos. NADA DE COCOCAS.
O novo caseiro, que catava pinhas para a lareira ali do lado, perguntou o que queríamos e quando eu disse minhocas, dentro de alguns segundos ele nos trouxe 6! Jogamos as criaturinhas no balde, colocamos terra e plantinhas para que comessem enquanto observávamos seu comportamento tímido. Mas estas estavam animadas e se reviravam rapidinho, o que dava uma sensação estranha no João, que sacudindo as mãozinhas dava gritos de exclamação! A esta altura o papai já tinha chegado para participar da brincadeira e começou a fazer cócegas no barrigudo, que lhe deu uns bons tapas zangado, dizendo "NÃO!!!".
Logo em seguida, grita de lá de casa a cozinheira: " Tem uma cobra na churrasqueira!!! Vem alguém aqui pegar esse bicho!". Mas que maravilha! Por essa eu não esperava! Saí em disparada, carregando a barriga com pressa para não perder a chance de ver tão temido bichinho. Eu estava certa que era um exagero feminino, e o Pedro estava bastante desconfiado daquilo, perguntando de longe: "Aparecida? De que tamanho é a cobra???"(ahahahahahahahahahah!) Chegamos os três no canteiro ao lado da churrasqueira e encontramos uma cobrinha de rio, uma cobra de nada, já cansada coitada. Pedi um vidro de geléia a guardei a cobra por mais um tempinho. Assim poderíamos compará-la com as Cococas do balde. Dei o vidro ao João que explorou o bicho lá dentro, olhou de um lado, olhou de outro.. mas gostou mesmo foi das COCOCAS!!!

O sapo que tinha rabo




O último feriado em Teresópolis foi ainda mais mágico que o anterior.
Saímos em busca dos "peixes" da nascente de varinha comprida em punho. A excitação começa já nas escadinhas por onde ele desce com uma das mãos agarrada à minha e a outra com a varinha. Aquela passagem quase secreta entre as babosas ainda estava muito coberta de musgo e limo o que a torna ainda mais misteriosa... Sentados no último degrau antes do poço, começamos a cutucar os girinhos e qual não foi a nossa surpresa.. !! Um deles estava completamente verde, já tinha as patas da frente e as de trás mas ainda conservava o rabinho!! Era praticamente um sapo! Ficamos ali muitos minutos, esquecidos de todos que deviam estar dentro de casa sem notar o nosso sumiço. A boca da calça de moletom estava toda molhada e as investidas da varinha na água espirraram água também no casaco e no cabelo. A Cuca, nossa companheira de aventuras sempre por perto, com a bola na boca, acabou deixando cair o brinquedo e quem disse que conseguíamos regatá-lo? Eu, desequilibrada como estou, corria o risco de cair lá dentro ou pior, me espatifar de bunda na escada.. O João, estava interessado demais nas criaturinhas verdes para perder tempo com a bola cor de rosa, sua velha conhecida. Ela não se fez de rogada: deu um pulo naquela água gelada e pé ante pé conseguiu de volta sua amiga! "Bravo Cuca! Agora corre daqui, antesque o papai te veja e comece a esbravejar!!!"