quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Mamãe criança

Posso compreender mais a cada dia o sentido da maternidade.
É na vivência de um dia-a-dia de doação que a mulher entra em contato com suas maiores qualidades. Não acredito que isso seja uma regra, mas posso imaginar que fêmeas egocêntricas se tornem mães generosas, que as ansiosas sejam mais tranquilas, as doidonas encaretem e as irresponsáveis se consertem. Talvez não seja nada nada disso e a gente simplesmente deixe mais fortes as qualidades, permanecendo esmaecidos os defeitos.
É fato que a vida se transforma quase que da noite para o dia num furacão que deixa instáveis todas as estruturas, mas ainda assim, ou talvez por isso mesmo, é que seja tão intenso e tão bom. Por isso, faço questão de ser o rosto que o João vê por último todas as noites, e o primeiro que vê quando acorda. Por isso que fecho os olhos para ganhar seus carinhos desengonçados. Que não abro mão de dar o melhor, mais demorado e relaxante banho do dia. Não tenho preguiça, não deixo passar nada, invento novas historinhas e reinvento as antigas. Me fantasio para o teatrinho, arregalo os olhos pra me transformar no Sapo Bocarrão, compro lanterninha pra fazer bichos de sombra na parede e amar aqueles olhinhos curiosos e surpresos que acabam de descobrir mais uma novidade. Sou eu que vou sempre saber o que se passa pelo murmúrio que vem pela babá eletrônica. É meu o jeito falar baixinho no ouvido, de observar calada pra deixar que ele escute o barulho de coisas como os passarinhos do Parque Lage ou o som do chuveiro caindo no ralo de metal. Porque sou eu que fui criança outro dia, e que colocava o ouvido no chão de tábua corrida e por muitos minutos escutava a vida da casa abafada na madeira. Eu é que gostava de brincar deitada num lençol sobre a grama de Teresópolis e por horas observar o movimento das nuvens. Porque ainda posso me lembrar que não se dorme com o braço pedurado pra fora da cama porque vem um bicho muito feio te puxar. Porque sei o quanto é bom se esconder no armário da mãe e não sentir medo daquele escuro por causa do cheirinho das roupas dela. Porque eu sou mãe, mas outro dia mesmo eu ainda era só filha. Quero ser mãe, sem nunca esquecer o quanto era bom ser criança.

Um comentário:

Anônimo disse...

q texto lindo Bia! arrepiei :)
bjs!